terça-feira, 5 de outubro de 2010

Permita-se e ponto.



Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing. Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar até as duas e dezoito. Cansei de gente que gosta como pensa que é certo gostar. Gostar é essa besta desenfreada mesmo. E não tem pensar. E arrepia o corpo inteiro, mas você não sabe se é defesa para recuar ou atacar. Eu eu gosto de você porque gostar não faz sentido.

Permita-se. Se você acha que no fundo mesmo, apesar de todas essas reuniões e palavras em inglês que só querem dizer que você não sabe o que está falando, o que importa é ter pra quem mostrar que saiu o arco-íris. Permita-se. Porque eu não quero que você tenha essa pressa ao ponto de ajudar com as próprias mãos. Eu quero que você sinta esse prazer que chega aos poucos. E mata tudo que há em volta. E explode os relógios. E chega aos poucos ainda que você ainda não saiba nem quem é pouco e nem quem é lento. Porque você morre. Se você prefere a vida quando se morre um pouco por alguém. permita-se.


(...) Eu não quero ir embora e esperar o dia seguinte. Porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. E me diz que sempre tem outro dia. E me diz que eu não posso esperar nada de ninguém. E me diz que eu preciso de uma camisa de força. Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo. Se você puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se você puder esquecer a camisa de força e me enrroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum aquilibrio. Se você puder ser alguém de quem se espera algo, afinal, é uma grande mentira viver sozinho, permita-se. Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Eis, uma descrição.


"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O rsultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se trata de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. Há um perigo: se reflito demais, deixo de agir. E muitas vezes prova-se depois que eu deveria ter agido. Estou num impasse. Quero melhorar e não sei como. Sob o impacto de um impulso, já fiz bem a algumas pessoas. E, às vezes, ter sido impulsiva me machuca muito. E mais: Nem sempre os meus impulsos são de boa origem. Vêm, por exemplo, da cólera. Essa cólera às vezes deveria ser desprezada; outras, como me disse uma amiga a meu respeito, são: cólera sagrada. Às vezes minha bondade é fraqueza, às vezes ela é benéfica a alguém ou a mim mesma. Às vezes restringir o impulso me anula e me deprime, às vezes restringi-lo dá-me uma sensação de força interna. Que farei então? Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei."


Clarice Lispector

domingo, 22 de agosto de 2010

A certeza é uma dúvida?

Entre tantas pessoas que vagueiam por esse curioso mundo, eu me considero membro honorária da ala dos indecisos e céticos. Talvez seja um defeito capital do meu ser, ou uma forma de contemplar cada lado da escolha antes de tomar uma decisão. Não sei, a dúvida sempre me acomete, seja lá qual for o momento, seja por coisas banais, ou decisões realmente importantes, lá está ela, me assaltando novamente. Atualmente me vejo passando por essa situação diariamente, logo me ocorre que a indecisão me transporta para uma posição mais confortável, não fico tão suscetível ao erro ou ao fracasso. E sabe de uma coisa, não vejo problemas em ser assim, não pessoalmente, mas... A indecisão ofende, ou será que não? Bom, não estou completamente apta a responder... Apenas vejo que vivo em um mundo que me cobra certezas, e essas, decorrentemente não posso oferecer. Penso que essas “certezas” me perseguem, seja lá onde for, seja ao escolher um governante, ou ao o que vestir. Lá está ela, aquela duvida branda e cômoda, mas de caráter provisório. Afinal, apesar do ceticismo ser saudável, devemos chegar a alguma conclusão, ou não? Bem, não tenho certeza de nada, então não leve em consideração plena tudo o que foi dito, pois assim que o ultimo caractere foi escrito corro o risco de já ter me reinventado...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Onde eu parei?




Irrita-me o fato de nunca dar continuidade a nada, foi assim com minhas aulas de vilão, canto, piano, pintura, ou simplesmente um bolo de chocolate do qual desisti momentos antes de decidir fazê-lo. Sou uma desistente, alguém que pouco ou quase nunca investiu de verdade, que passou boa parte de seu tempo se poupando e acumulando mofos de comodismo. Me incomoda essa epifania, percebo o quão inútil sou, gasto meu tempo com babaquices televisivas e tecnológicas ao invés de pular no escuro de meus impulsos e abalos, fico esperando, sonhando, camuflando-me, fugindo, quase nunca sendo. Critiquei e critico pessoas assim, isso me coloca na condição de hipócrita, e vejo o cinismo de minhas atitudes, sou alguém que conta com poucas palavras de falso esclarecimento a fim de se livrar das pedradas. Mas agora chega, me decidi, vou começar a saborear porção do estrago, vou romper o medo, o silêncio, a minha indiferença pessoal quero provar essa vida poética, boêmia e apaixonada da qual sempre fugi. Vivo agora, nessa utopia de vida que talvez seja um momento auto-reflexivo ou uma autoajuda pessoal, e se for, que eu a deguste enfim. O primeiro passo é dar corpo a este blog, alimentá-lo com minhas palavras, com minhas bobagens e filosofias, mas que assim seja, pois assim preciso.
Ps: Sinto chocá-los dessa forma em um dos meus primeiros posts, prometo ser mais amena nos próximos que virão, ou não. Ah, vamos ver.